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Notícias

17/08/2017 - Notícias
Análise Conjuntural do Mercado de Transporte Rodoviário de Cargas no 1º Semestre de 2017
por por Eng. Antonio Lauro Valdivia Neto*

O mercado de transporte rodoviário de carga está há três anos em recessão, e apesar dos números serem do meio do ano de 2017, tudo indica que este ano será mais um ano dificílimo a se juntar a 2014, 2015 e 2016. Apesar da expectativa de se ter um pequeno crescimento do PIB, algo próximo a 0,5%, ou seja, ele está muito aquém da necessidade do setor para que este tenha um alívio em suas contas.

Agora, as esperanças se voltam para 2018, mas há que se resolver o imbróglio da fraca demanda doméstica e a incerteza política e das políticas que atualmente ditam e ditarão o ritmo da recuperação da economia no segundo semestre de 2017 e em 2018. Dentro desta visão de melhora do mercado em 2018, o BC prevê um crescimento de 3,5% para a agropecuária, alta de 1,5% para a indústria e avanço de 0,9% para o setor de serviços. O mercado espera que outros indicadores importantes também devam voltar a melhorar. A projeção é de que os investimentos, depois de terminar 2017 em ligeira alta, cheguem ao fim de 2018 com uma alta próxima a 4,0%.

Já segundo os pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer apenas 1,8%, para eles o processo de recuperação da economia brasileira em 2018 será lento e não ocorrerá na velocidade desejada por todos.

O setor industrial vem registrando uma melhora nos seus indicadores, em junho/17, por exemplo, a produção da indústria brasileira cresceu 1,1%, na comparação com o mês anterior. Tudo indica que a indústria deverá se recuperar primeiro, até por ter sido o setor que primeiro sentiu os efeitos da crise.

É fato que o cenário para a economia brasileira em 2018 ainda é incerto, porém, ao que tudo indica, o pior já passou e o Brasil entra em uma fase de recuperação dos últimos anos perdidos, tanto em termos sociais quanto econômicos.

O SETOR DE TRANSPORTE EM 2017

O recadastramento no RNTRC mostra uma diminuição no número de empresas de 2014 para 2017 da ordem de 27%, são quase 40 mil registros de empresas transportadoras a menos.

Apesar do ano de 2017 ter sido um pouco melhor que 2016, os números do TRC estão muito longe do ideal. A pesquisa realizada pela NTC em conjunto com a ANTT no meio do ano mostrou um cenário difícil para as transportadoras. As empresas do setor, no primeiro semestre, apresentaram uma queda média de 10,32% no faturamento, ainda resultado do menor valor do frete e da queda no volume de carga transportada. Somente 9,1% das empresas conseguiram crescer, 34,5% ficaram estáveis e 56,3% diminuíram de tamanho, sendo que estes números não englobam as transportadoras que fecharam as portas e, portanto, deixaram de existir.

 

 

O VALOR DO FRETE

É importante observar que o frete juntamente com a quantidade de carga transportada é o instrumento que as empresas de transporte têm para geração da sua receita. Receita esta que, necessariamente, tem que ser suficiente para cobrir todos os custos da empresa, pagar os impostos devidos, cobrir os riscos envolvidos e ainda deve sobrar uma parcela de lucro para que a empresa possa fazer os investimentos necessários (para se atualizar, atender novas exigências dos clientes e dos governos, se adaptar às mudanças etc) e remunerar os seus acionistas.

 

 

 

O valor do frete peso praticado pelo setor iniciou o ano com uma defasagem em relação aos custos envolvidos nas operações de transportes, calculada em 18,3%, valor que chegou no meio do ano a 14,3% - 20,89% no transporte de cargas lotações (fechadas) e 7,72% no transporte de cargas fracionadas.

Além disso, a cobrança dos demais componentes tarifários, frete valor, GRIS e as Generalidades, ou é desconhecida ou apesar do seu conhecimento ela é ignorada. Assim, a pesquisa mostra que:

  • 69,6% não cobram frete valor – 63% na carga fracionada e 74% na lotação;
  • 79,5% não recebem GRIS – 73% na fracionada e 82% na lotação;

 

Em fevereiro de 2017 foi concebida uma generalidade nova para cobrir os custos envolvidos nas operações de transporte em situações excepcionais e emergenciais, a EMEX, o que motivou a sua criação foi a condição em que se encontra a região metropolitana do Rio de Janeiro, onde o roubo de carga atingiu números alarmantes e, que resultaram para as transportadoras aumento significativo dos custos do serviço de transporte com: o agravamento das apólices de seguro, aumento do valor das franquias, contratação de serviços de escoltas urbanas, reforço da equipe de GR, entre outros.

Apesar dos esforços para a divulgação da EMEX a pesquisa mostrou que apenas 4,5% implantaram a sua cobrança, 14,7% não a cobram apesar de saber da sua existência e 80,8% nem sabem que ela existe. E, as demais generalidades do transporte seguem o mesmo exemplo, ou seja, são poucos os que as cobram e em grande parte são ignoradas pelos transportadores e embarcadores.

Como se não bastasse a defasagem no frete peso, a falta de cobrança e o desconhecimento dos demais componentes tarifários, nada menos que 54,7% (no início do ano eram 86%) das empresas disseram estar recebendo fretes com atrasos, montante que, segundo elas, chega a comprometer 14,3% do faturamento. Isto, depois de terem cedido e estendido o prazo de pagamento. Os obstáculos enfrentados ao longo do ano não são só estes. Há ainda a questão das ações e indenizações trabalhistas que comprometem quase 3% do faturamento ou, quando a empresa tem lucro, 60% deste.

Conclusão, no que compete ao frete, é importante que as empresas que atuam neste mercado passem a pensar seriamente em cobrar mais e melhor pelos serviços que prestam.

PREVISÃO PARA 2018

A inflação do transporte rodoviário de cargas em 2017 medida pelo INCT foi influenciada, basicamente, pelo aumento da mão de obra, que teve seu ritmo bem reduzido em relação ao ano de 2016, pois o preço dos demais insumos ou teve pouca variação ou foi negativa. Acredita-se que em 2018 o cenário deva ser bem semelhante a 2017 com o INCT bem-comportado, sem grandes pressões de alta e seguindo de perto o IPCA.

Tudo indica que em 2018 a situação econômica deva melhorar um pouco mais, a ponto de alguns profissionais de mercado apostar em um aumento do PIB para o Brasil da ordem de 2,3%, mas esse número pode ser ainda melhor caso as reformas e as iniciativas do Governo passem a surtirem o efeito desejado por todos. Para o TRC este PIB deve representar um crescimento médio de mercado entre 5,0% e 7,0%. Apesar de ser um número considerado bom, deve trazer dificuldades para as empresas do setor, pois como os números demonstram a oferta de transporte diminuiu muito nos últimos anos e a capacidade de investimentos das empresas está baixa o que limita muito o poder de reação do setor para atender de forma eficiente este aumento de demanda.

O futuro parece estar bem mais promissor que o quadro enfrentado pelo TRC nos últimos anos, deve-se ter a inflação sobre controle em níveis abaixo da meta, uma elevação considerável no volume de carga a ser transportada, o que gera boas perspectivas para a recomposição do frete. Evidentemente ainda há algumas nuvens escuras no horizonte que podem atrapalhar estas previsões, são elas: as denúncias e o conteúdo das delações, a aprovação das reformas, a velocidade do acerto das contas públicas, e o quadro eleitoral do ano que vêm, já que em 2018 ocorrerão eleições aos principais cargos políticos, inclusive o de presidente.

O fato é que, se tudo der certo, o Brasil deve começar a se reerguer pra valer em 2018, dando possibilidade aos transportadores de começar a recuperar pelo menos uma parte do que foi perdido nos últimos anos com a recessão.

Mas é necessário que o transportador faça a sua parte, precisam urgentemente, em primeiro lugar, valorizar o serviço que presta, pois, ele é trabalhoso e possui muitos riscos; em segundo lugar cobrar e ser remunerado de forma justa e adequada pelo serviço que entrega. E, lembrar sempre que cobrar frete é tão complexo como o serviço que se presta e, neste caso infelizmente não há o milagre da simplificação.

 

 

* Especialista em transportes; Engenheiro de Transportes, pós-graduado e Mestre em Administração de Empresas. Assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas – NTC