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Notícias

26/09/2016 - Notícias
Brasil destoa no mercado global de caminhões
por NTC&LOGÍSTICA

País é citado no IAA 2016 como maior fonte de preocupação no cenário mundial.

 

Enquanto projeções indicam que o mercado global de caminhões acima de 6 toneladas de peso bruto total (PBT) deve crescer em torno de 3% este ano, para 2,8 milhões de unidades vendidas no mundo todo, o Brasil – seguido em menor escala pela Rússia – continua a ser a maior fonte de preocupação do setor em citações sobre o País no IAA Commercial Vehicles, maior e mais importante salão de veículos comerciais e componentes, que acontece a cada dois anos em Hannover, Alemanha, nesta edição de 22 a 29 de setembro. O mercado brasileiro de caminhões enfrenta seu terceiro ano seguido de queda acentuada, este ano a retração esbarra nos 30% e as vendas mal devem passar de 50 mil veículos, deixando as fábricas com ociosidade superior de 50%.

 

“Brasil e Rússia permanecem sendo causas de preocupação. A demanda nesses países é muito baixa e não há sinal de melhora no horizonte”, avalia Matthias Wissmann, presidente da associação da indústria automotiva alemã, a VDA, que reúne fabricantes de veículos e autopeças do país e organiza o salão de comerciais em Hannover. “O atual ministro da Fazenda (Henrique Meirelles) parece ter visão clara sobre os ajustes necessários a fazer para tirar o Brasil dessa severa recessão, com estabilidade fiscal e econômica. Mas no momento não vemos sinais de recuperação. Será necessário tempo para implantar as mudanças necessárias e políticas estratégicas”, acrescentou o dirigente em entrevista coletiva poucos dias antes da abertura do IAA Hannover.

 

POTENCIAL MAIOR

Wissmann compartilha da expectativa que em 2017, ao menos, o mercado deve parar de cair. “Será um ano melhor para o Brasil e seu setor de veículos comerciais, com mudanças macroeconômicas causando impacto no mercado. Mas há ainda um longo caminho pela frente”, avaliou. O que todos concordam é que o atual volume de vendas está muito abaixo do potencial do País, mesmo sem contar com os fatores extraordinários que provocaram crescimento insustentável, como a mudança de legislação de emissões em 2012 que provocou antecipação de compras e o recorde histórico pouco acima de 170 mil unidades vendidas.

 

“O tamanho real do mercado brasileiro deve ser pelo menos três vezes maior que o atual, em torno de 120 mil a 130 mil caminhões por ano”, avalia Roberto Cortes, presidente da MAN Latim America, que vem trabalhando com a fábrica de Resende em ociosidade superior a 50%, mas que passaria de 70% sem a redução da jornada para apenas um turno e ajustes no contingente de mão de obra.

 

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, tem opinião parecida: “Se considerar que o País tem uma frota de 3 milhões de caminhões e muitos deles com mais de 20 anos de idade, só a renovação consumiria 250 mil unidades. Mas um mercado de 150 mil/ano seria perfeitamente possível”, afirma. Segundo ele, a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) tem ociosidade superior a 60% no momento, com apenas um turno de trabalho e várias paradas: “Nos últimos 12 meses foram mais de 150 dias parados e tínhamos 1,8 mil funcionários em licença”, diz. Com o último PDV aberto e o pagamento de R$ 100 mil para quem quisesse sair independentemente do tempo de casa, a empresa conseguiu uma redução de pouco mais de mil pessoas demitiu cerca de 350 para alcançar o acordo com o sindicato de cortar 1,4 mil empregados. Em outubro deve começar um novo regime de layoff, suspensão temporária do contrato de trabalho por seis meses, do excedente que a planta ainda tem.

 

Cortes e Schiemer também concordam com o cenário que favoreceria a formação de um mercado com esses volumes acima de 100 mil/ano. “É preciso que os juros caiam e mais disponibilidade de crédito, com possibilidade de se financiar 100% do valor do bem”, defende Cortes. “Não quero subsídio, mas apenas um custo de capital razoável, que justifique o investimento de quem quer comprar um caminhão, para estimular a compra”, reforça.

 

Outro fator seria a adoção de um programa de renovação de frota: “Não há recursos (para garantir o financiamento dos caminhões), por isso acho difícil acontecer. Mas é possível incentivar a renovação começando de forma mais simples, por exemplo, com a taxação de veículos mais velhos. Aqui eles pagam menos impostos que os novos, isso não faz sentido”, pondera Schiemer. Na quarta-feira, 21, os fabricantes de veículos representados pela Anfavea entregaram ao governo novamente uma proposta de renovação de frota, com esperança que desta vez seja colocado em prática, pois não necessitaria de recursos do governo.

 

Seja como for, Schiemer avalia que nada acontecerá no mercado de caminhões sem crescimento econômico. “Crédito e renovação de frota certamente ajudam muito, mas se a economia não voltar a crescer fica tudo parado. Existem sinais de retomada e de aumento da confiança, mas ainda fracos, as coisas tem de começar a acontecer de fato”, diz.

 

“O Brasil enfrenta tempos difíceis, é um mercado importante e por isso é preocupante o que está acontecendo. Mas bons sinais de recuperação têm chegado nos últimos dias”, avaliou Andreas Renchler, presidente da Volkswagen Truck & Bus, a divisão criada há um ano pelo Grupo VW para abrigar suas fabricantes de veículos comerciais (MAN, Scania, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Volkswagen Veículos Comerciais).

PROJEÇÕES GLOBAIS

De acordo com o mapa de projeções para o mercado global de caminhões acima de 6 toneladas de PBT em 2016, as maiores contribuições para o esperado crescimento de 3% nas vendas mundiais devem vir da China e Europa Ocidental. O mercado europeu vem crescendo desde 2014, passando de 227 mil unidades vendidas naquele ano para 259 mil em 2015, em vigorosa expansão de 14% e perspectiva de avançar mais 8% em 2016, para 280 mil. “O desempenho reflete a recuperação econômica na Europa Ocidental, mas o crescimento já é mais lento agora”, avalia Wissmann, da VDA.

 

Na China, as vendas voltaram a crescer após expressivas retrações entre 2014 e 2015, quando o mercado desceu a 761 mil caminhões acima de 6 toneladas. Este ano as estimativas apontam para incremento de 12%, para 841 mil unidades. “Após dois anos de queda os chineneses voltam a se recuperar. É um bom sinal, mas o volume ainda está distante do recorde (de 1,3 milhão em 2010)”, afirma o presidente da VDA.

 

Nos Estados Unidos, após seis anos seguidos de crescimento, o mercado de caminhões deve cair 15% este ano, de 449 mil unidades em 2015 para esperadas 383 mil em 2016, o que Wissmann considera um resultado “normal” após o longo período de expansão.

 

“Como se vê, esperamos crescimento no total, mas o mundo é bastante diverso, com expansão de dois dígitos porcentuais em alguns mercados importantes e situação dramática em outros, como o Brasil”, pondera Wissmann.