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20/11/2014 - Notícias
Para universalizar tratamento de esgoto, Bahia precisa de R$ 18 bilhões
por CORREIO DA BAHIA

Apesar da alta soma, especialista indica que os benefícios provocados pela oferta maior de saneamento geraria uma economia para o estado bem maior: de R$ 20 bilhões.

 

Para que  todos os moradores da Bahia tenham suas  casas conectadas a redes de tratamento de esgoto seria necessário um investimento de R$ 18 bilhões. Essa é a estimativa do presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Apesar da alta soma, ele indica que os benefícios provocados pela oferta maior de saneamento geraria uma economia para o estado bem maior: de R$ 20 bilhões. 

“Esse seria o valor necessário para investimento até 2025 para a universalização da oferta no estado. Com isso, só no número de internações por diarreia haveria uma economia de R$ 2,9 milhões por ano com a redução de 9 mil atendimentos desse tipo”, argumentou.

Para  Édison, apenas em dias de afastamento do trabalho o ganho seria de R$ 8,3 milhões em um ano com menos 10 mil dias de afastamento. “Quando o trabalhador tem mais saúde ele é mais produtivo. Até no turismo a universalização do saneamento tem impacto. Só na Bahia seriam criados mais  38 mil postos nesse setor”, opina Édison.

Ele destaca que, apesar de ainda ser insuficiente, a Bahia tem tido grande volume de investimento no setor. “Entre os anos de 2010 e 2012, a Bahia só ficou atrás de São Paulo e de Minas Gerais no volume de investimentos em saneamento básico”.  

O especialista destaca, porém, que quando se pensa em saneamento não se deve apenas focar na oferta de esgoto. “É importante fazer o ciclo completo: água potável, coleta de lixo, drenagem e  tratamento de esgoto”, diz. 

Pesquisas do Instituto Trata Brasil indicam que a falta de saneamento atinge todas as regiões do Brasil. Em 2011, em todo país, 54 mil pessoas foram internadas nas 100 maiores cidades brasileiras só com diarreia.

“Nós temos problemas de saneamento seriíssimo em área rica e  também em pobre. É uma lenda achar que saneamento é problema só de pobre e de estados do Norte do Brasil. Mesmo em São Paulo e no Rio de Janeiro temos problemas de saneamento. Hoje, em todo o país, há 6 milhões de pessoas que não têm banheiros”.

Mudanças climáticas também afetam o saneamento básico

Aumento da temperatura, da frequência das chuvas,  estiagem, seca em algumas regiões, aumento do nível do mar... Você sabia que cada um desses fatores tem uma influência direta no saneamento básico? A informação é do gerente  de Mudanças Climáticas do Iclei, Igor Albuquerque, um dos palestrantes desta edição do Agenda Bahia. 

Segundo ele, o aumento da incidência de chuvas pode acarretar em enchentes, contaminando reservatórios de água. Já a estiagem, diminui a oferta de água e, consequentemente, da água disponível para saneamento.

“O saneamento tem que desenvolver mecanismos de tratar essas questões, de se adaptar, de mitigar esses embargos. Seja através da introdução de tecnologias e inovação, através de reaproveitamento de gases, de tratamento de efluentes líquidos, ou de políticas integradas à gestão de resíduos”, destaca.

Entre as iniciativas desenvolvidas no país, ele cita Recife e Fortaleza, como duas cidades-piloto de um projeto chamado Airborne Weather (radar meteorológico). Segundo Albuquerque, nesse projeto, o saneamento aparece como uma prioridade, como algo fundamental para o desenvolvimento urbano de baixo carbono. “Saneamento não está simplesmente ligado ao desenvolvimento, às questões econômicas e política, mas principalmente ao bem-estar, à qualidade de vida, à saúde e à educação”.

Os gargalos que travam o cumprimento das metas

Metade das 240 obras de saneamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) acompanhadas pelo Instituto Trata Brasil nas 100 maiores cidades do Brasil não cumpre o cronograma inicial das obras. Disse, no primeiro painel do dia, o presidente do instituto, Édison Carlos, que atribui o problema  à  burocracia e a  deficiência técnica dos projetos de saneamento. “Só no trâmite legal são 23 meses de papelada antes de começar as obras – que se soma a outros gargalos que vão desde má qualidade das empreiteiras até problemas ambientais”, explica Édison, se referindo ao PAC-2, que está no terceiro ano de execução. 

Ele ressalta que as cidades menores precisam de apoio técnico em função de falta de projetos adequados. “O ritmo está muito devagar. Não é por falta de dinheiro. Os pequenos municípios  precisam de apoio técnico do governo federal pois não têm capacidade de tocar esses projetos. Ou o  governo faz uma estrutura de apoio a essas cidades ou esses pequenos municípios não vão  aproveitar nada dessas verbas do PAC”, explica Édison.

O gerente de Mudanças Climáticas do Iclei, Igor Albuquerque, informou que também acompanha de perto essa falta de conhecimento técnico nas próprias prefeituras. “É preciso uma interação maior com o governo federal para ter esse apoio logístico. Mas, às vezes, as divergências políticas têm atrapalhado esse diálogo. Falta conhecimento técnico e vontade política para fazer”, constata o especialista.

Nesse contexto, o especialista José Eli da Veiga chamou a atenção para os critérios utilizados para denominar o que é cidade. “Aqui, chamamos de cidade o que no resto do mundo é chamado de vila ou aldeia. Chamamos de cidade qualquer sede de município que não necessariamente tem estrutura para ser uma cidade”, lamenta o professor da USP.

Além da falta de estrutura das cidades para tocar obras de grande complexidade, ele chamou a atenção ainda para o fato de muitas vezes a própria população não se empenhar no processo.  “Às vezes, o obstáculo é a própria população, que é chamada para pensar em soluções para o saneamento e nem sempre está disposta a participar desse debate”, diz.