PIB recua 1,9% no 2º trimestre, e país entra em recessão técnica
No primeiro trimestre, economia teve queda de 0,7%, segundo IBGE. Investimentos tiveram a maior queda desde o primeiro trimestre de 1996.
O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 1,9% no segundo trimestre de 2015, em relação aos três meses anteriores, e o país entrou no que os economistas chamam de "recessão técnica", que ocorre quando a economia registra dois trimestres seguidos de queda. De janeiro a março deste ano, o PIB teve baixa de 0,7% (dado revisado). Gráfico de trimestre (Foto: Editoria de Arte/G1)
Essa retração de 1,9% é a maior desde o primeiro trimestre de 2009, quando a economia também registrou recuo de 1,9%. Neste trimestre, os investimentos e o consumo das famílias tiveram forte queda, ao mesmo tempo em que os gastos do governo aumentaram, e acabram puxando para baixo o desempenho da economia brasileira. Em relação ao segundo trimestre de 2014, a baixa foi ainda profunda, de 2,6%, a maior desde o primeiro trimestre de 2009, quando o recuo também foi de 2,6%. Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre do ano alcançou R$ 1,43 trilhão. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste trimestre, frente ao anterior, todos os setores registraram queda, puxada pela indústria, que teve retração de 4,3%, pela agropecuária, de 2,7% e pelos serviços, de 0,7%. Recessão técnica O Brasil também havia registrado uma recessão técnica no último trimestre de 2008 e primeiro de 2009, durante a crise econômica mundial. “Várias coisas voltam lá para 2009. Na época, em 2008 e 2009, o consumo das famílias não tinha sido tão afetado [pela crise], existiam medidas para tentar reduzir o efeito [sobre o consumo das famílias]. São momentos um pouco diferentes [2015 e 2009], mas ambos com turbulências internacionais. Isso é um fato similar, no caso. Agora, obviamente que a turbulência tanto política quanto econômica está afetando todas as atividades. É um movimento que está afetando a economia toda”, analisou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Rocque Palis. No ano, de janeiro a junho, a economia registra contração de 2,1%, na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o IBGE, esse resultado é o pior desde o primeiro semestre de 2009, quando caiu 2,4%. “Tanto pela ótica da produção quanto pela da despesa, a gente tem que os três principais setores do PIB apresentaram queda em relação ao trimestre anterior”, apontou Rebeca. O que aconteceu em cada setor No caso do setor serviços, o que mais influenciou foi o movimento do comércio, que vem mostrando seguidamente resultados desanimadores. Neste segundo trimestre, a queda foi de 3,3%, seguida pelo recuo de 2% em transportes, armazenagem e correio. Consumo e investimentos Quanto ao setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 3,4%, e as importações, por outro lado, recuaram 8,8%. Na comparação com o segundo trimestre de 2014, os investimentos sofreram uma queda ainda maior, de 11,9% - a maior desde o primeiro trimestre de 1996, quando o indicador recuou 12,7%. "Este recuo é justificado, principalmente, pela queda das importações e da produção interna de bens de capital, e também pelo desempenho negativo da construção civil." Nessa base de comparação, a despesa de consumo do governo caiu 1,1%, e os gastos das famílias, que também entram no cálculo do PIB, recuaram 2,7% - a segunda baixa seguida. De acordo com o IBGE, essa retração de 2,7% é a maior queda o quarto trimestre de 1997, quando caiu 2,8%. "O resultado pode ser explicado pela deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo do período", informou o IBGE. Também entram no cálculo do PIB as exportações de bens e serviços, bem como as importações feitas pelo país. Nesse caso, as vendas tiveram expansão de 7,5%, e as compras caíram 11,7%, "ambas influenciadas pela desvalorização cambial de 38% registrada no período". Poupança e investimento A taxa de poupança recuou em relação ao ano passado, passando de 16% no segundo trimestre de 2014 para 14,4%, nos mesmos meses de 2015. Expectativas negativas confirmadas Já a estimativa do mercado financeiro para o ano todo, apresentada no início da semana pelo boletim Focus do Banco Central, indicava que a economia deverá ter uma retração de 2,06%, seguida por uma queda de 0,24% em 2016. Dois anos seguidos de recessão Se confirmada a previsão, será a primeira vez que o país registrará dois anos seguidos de contração na economia, pela série do IBGE iniciada em 1948. Todas as seis vezes em que o país fechou o ano com PIB negativo foram sucedidas por uma rápida recuperação nos anos seguintes. O cenário atual é bem diferente, segundo o economista da FGV/IBRE Paulo Picchetti. “A recessão começou sem ser possível enxergar os mecanismos que vão levá-la ao fim. Não há instrumentos de política econômica capazes de reverter esse quadro num futuro razoavelmente rápido.” Como um país sai de uma recessão?
|